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Edição Nº 38 - 15/04/2010

EDITORIAL
União em prol do Brasil

Causa indignação e tristeza assistir à repetição de tragédias geotécnicas, que só neste ano já levaram mais de 300 brasileiros à morte e provocaram milhares de feridos e desabrigados. Antes mesmo do fatídico abril no Rio de Janeiro e Niterói, a comunidade técnica e científica, que tem entre suas atribuições profissionais a área de estabilidade de encostas, tinha já produzido um documento público – a “Carta Aberta às Autoridades” – denunciando o “acúmulo de erros e descasos na gestão do crescimento urbano de nossas cidades com relação às características geológicas e geotécnicas dos terrenos ocupados”. Fruto de entendimentos entre a ABMS e a ABGE (Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental), iniciados em fevereiro deste ano, a “Carta”, assinada pelos presidentes das duas entidades, vai muito além da denúncia e aponta cinco medidas que precisam ser implantadas desde já para evitar novos deslizamentos, mortes, feridos e desabrigados no próximo verão.

É este documento que será apresentado ao público, oficialmente, nesta sexta-feira, 16 de abril, em São Paulo, na sede do Instituto de Engenharia, às 16h30, em evento conjunto da ABMS e da ABGE, que será marcado também por uma homenagem histórica às sete décadas de atuação profissional de um dos pioneiros da geotecnia no Brasil, Milton Vargas – o primeiro a estudar os solos residuais, típicos de países como o Brasil.

Milton Vargas foi, por sinal, um dos primeiros engenheiros a estudar as características geológicas e geotécnicas da Serra do Mar, na região de Santos e Cubatão. O trabalho de Vargas e de outros importantes representantes da comunidade técnica e científica permitiram justamente que o Brasil chegasse ao estágio de conhecimento hoje alcançado no que se refere à estabilidade de encostas.

De fato, o Brasil tem hoje o conhecimento e todas as condições técnicas necessárias para evitar a repetição de tragédias como as que se repetem anualmente no Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Salvador e tantas outras cidades e regiões. É o que aponta a “Carta Aberta às Autoridades Públicas”. O documento é o primeiro fruto de uma histórica reunião realizada em São Paulo, no dia 25 de fevereiro deste ano, por representantes da ABMS e da ABGE, sob a coordenação dos presidentes das duas entidades.

A “Carta” apontou cinco medidas que devem ser adotadas desde já, que estão a seguir resumidas:

1. Elaboração de Cartas Geotécnicas e Cartas de Riscos, a começar das áreas mais críticas
2. Monitoramento das áreas de riscos
3. Remoção de moradias instáveis
4. Capacitação de técnicos nos municípios e estados
5.Treinamento das comunidades situadas em áreas de risco

Ressalte-se a contribuição inestimável, na elaboração da “Carta”, de dois ilustres representantes da ABGE, Álvaro Rodrigues do Santos, e da ABMS, Willy Lacerda. Mas a obra é resultado de trabalho coletivo de todos os que participaram da reunião –  Álvaro Rodrigues dos Santos, Edgar Odebrecht, Eduardo S. de Macedo, Frederico Garcia Sobreira, Kátia Canil, Luiz A. Bressani, Osni José Pejon, Roberto Quental Coutinho e Willy A. Lacerda.

Importante destacar também que a “Carta” é apenas o primeiro fruto da aproximação entre as duas entidades. Grupos de Trabalho foram já organizados e estão em plena atividade para propor em breve novas iniciativas que podem levar, se de fato implementadas, à superação definitiva das tragédias geotécnicas nas proporções em que elas ocorrem em nosso país.

Agradeço, por fim, a Fernando Kertzman, presidente da ABGE, que em face da gravidade da situação nacional no que se refere às tragédias geotécnicas empreendeu conosco esse caminho de união da comunidade técnica e científica em torno de objetivos maiores e de missões que podem resultar em ganhos definitivos para a sociedade e para o país.

Jarbas Milititsky
Presidente da ABMS

A e-ABMS é a revista eletrônica da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Diretoria:
Jarbas Milititsky
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Ilan Gotlieb
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Editor: Helvio Falleiros
Repórter: Graziele Storani e Renata Tomoyose