Edição Nº 36 - 05/02/2010
EDITORIAL
A voz da engenharia precisa ser ouvida

"Deslizamentos em Angra, Ilha Grande e São Paulo, colapsos de pontes e escorregamentos em estradas federais, estaduais e municipais de várias regiões do País. Este cenário trágico, desencadeado pelas intensas chuvas de verão, produziu mais de uma centena de vítimas fatais, milhares de desabrigados e afetou diretamente milhões de brasileiros. Perplexa e indefesa, a sociedade se sentiu totalmente entregue aos fenômenos naturais intensos, como se estivesse diante de fatos cujas consequências seriam inevitáveis, inexoráveis, incontornáveis. É duro observar que esse mesmo roteiro volta à cena todos os anos, em novas locações. Santa Catarina em 2008. Angra, Ilha Grande e São Paulo em 2009 e 2010, somente citando o período recente. Até quando haveremos de assistir à repetição de tragédias assim?
"O que pode fazer a engenharia e, de modo particular, a engenharia geotécnica para reduzir substancialmente os impactos das chuvas de verão? A sociedade e, principalmente, as autoridades dos três níveis da Federação precisam parar um momento e voltar a sua atenção para o que a engenharia geotécnica brasileira tem a dizer sobre deslizamentos, segurança de encostas, estabilidade de taludes, manutenção de pontes e viadutos. Realizamos eventos técnicos periódicos sobre as questões de estabilidade de encostas, elaboramos a normalização que rege o assunto. Somos certamente o grupo qualificado para tratar objetivamente do tema. Já realizamos eventos de esclarecimento em locais onde agora ocorrem os acidentes. Soluções existem e são conhecidas. Resta implantá-las.
"Estamos, sim, fazendo a nossa parte, amplificando a nossa voz para fazê-la chegar à sociedade. No calor dos recentes acontecimentos na Ilha Grande e em Angra dos Reis, a ABMS colocou à disposição da imprensa brasileira, através de sua área de comunicação, os seus melhores técnicos e especialistas. Foram mais de 50 entrevistas às emissoras de rádio e TV, aos jornais diários e revistas semanais, às publicações técnicas, nas quais os representantes da ABMS mostraram incansavelmente o que precisa ser feito. Apontaram falhas. Propuseram medidas emergenciais. Sugeriram planos abrangentes que vão à raiz dos problemas. Colocaram-se, enfim, à disposição dos meios de comunicação e dos gestores públicos para oferecer as soluções da engenharia geotécnica aos problemas observados. São eles hoje os porta-vozes da boa técnica e das melhores práticas de gestão para obras de engenharia.
"Todo este acervo está apresentado nesta edição da revista e-ABMS, à disposição do associado, que poderá consultar cada uma das matérias, se assim o desejar. Entendemos a realidade política nacional, prevenção e manutenção não dão votos como as inaugurações. Obras novas sempre terão prioridade nas políticas de investimento. Já está na hora de conscientização dos agentes públicos de que os custos financeiros de recuperação serão sempre superiores aos de prevenção, sem contar as perdas humanas insubstituíveis. Uma breve observação dos investimentos previstos em prevenção e os efetivamente utilizados mostra uma precariedade de realizações que deveria ser objeto de denuncia permanente. Fica a dúvida: seremos ouvidos? As autoridades terão a sabedoria para rever suas práticas e planos, atendendo às nossas recomendações técnicas, apresentadas na “Carta de Joinville” e no documento assinado em janeiro deste ano pela ABMS e o Clube de Engenharia? Ainda é cedo para dizer. Este é um ano de eleições no Brasil. Conseguiremos comprometer os futuros dirigentes com práticas adequadas ou seguiremos lamentando as perdas e os prejuízos?
"Estaremos instituindo grupo de trabalho para produzir recomendações específicas sobre a questão publica de áreas de risco. Precisamos valorizar a Geotecnia e os geotécnicos. A ABMS se fará presente com a produção de material técnico, recomendações, organização de atividades de esclarecimento aos agentes públicos, tais como Defesa Civil corpo de bombeiros, prefeituras e outros. Existe a expectativa de recursos federais para ações de pesquisa e desenvolvimento na área de previsão, prevenção e remedição de desastres naturais (FINEP, Ministério das Cidades, Agencias de fomento estaduais), estaremos divulgando, mobilizando parcerias e estabelecendo as devidas conexos para ampliar a participação dos grupos de pesquisa e de excelência existentes regionalmente.
"O Brasil, que no passado foi a “República dos Bacharéis” e já assistiu à hegemonia da tecnocracia, liderada pelos economistas, precisa agora ouvir os seus engenheiros. A voz da engenharia brasileira precisa ser ouvida. Queremos contribuir para poupar vidas humanas, reduzir prejuízos materiais e dotar de mais racionalidade, mais técnica e mais ciência a ação dos órgãos públicos. Este é o nosso desafio. A ABMS é a engenharia geotécnica a serviço do Brasil
". Jarbas Milititsky, presidente da ABMS
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CHUVAS E DESLIZAMENTOS
Novos deslizamentos levam ABMS e Clube de Engenharia a propor Plano Nacional de Segurança de Encostas

Para evitar que novos deslizamentos venham a causar mais mortes e prejuízos materiais, como os ocorridos este ano no Rio de Janeiro, São Paulo e em várias regiões do País, a ABMS e o Clube de Engenharia firmaram um documento público com cinco propostas principais. As duas entidades querem a definição de um Plano Nacional de Segurança de Encostas, que deverá ser articulado por um novo órgão a ser criado, a Comissão Federal de Segurança de Encostas. "O tema é de âmbito nacional e precisa de soluções abrangentes", afirmou Jarbas Milititsky, presidente da ABMS e um dos signatários do documento. O texto recomenda também que os governos estaduais promovam a criação de órgãos geotécnicos estaduais para atuar de forma permanente em apoio aos municípios, visando à segurança das encostas. “O deslizamento acontece naturalmente nos municípios - mas este é um problema que merece uma abordagem mais profunda, envolvendo órgãos federais, estaduais e municipais”, destacou o presidente da ABMS. O documento faz outras recomendações - como a elaboração compulsória de mapas geotécnicos para identificar as áreas de risco. Outra medida proposta é a integração das universidades e associações técnicas ao trabalho de gestão das áreas de risco, treinamento de pessoal e ações de conscientização da população. A quinta recomendação da ABMS e do Clube de Engenharia é que os governos estaduais devem tornar obrigatória a avaliação dos projetos e construções em encostas por parte de especialistas em Geotecnia. “Os recentes deslizamentos de encostas registrados em vários pontos do país reafirmam a importância de medidas preventivas”, sustenta o presidente da ABMS. “Resta agora implementá-las, começando pelo Rio de Janeiro”. Na foto, Alberto Sayão, ex-presidente da ABMS, Anna Laura Nunes, presidente do CBMR  e Ricardo Latge, da APG (Associação dos Profissionais de Geologia) assistem à palestra de Marilene Ramos, secretária do Ambiente do RJ, realizada no dia 15 de janeiro, no Rio. Leia mais.

MÍDIA
ABMS é destaque na imprensa

Desde os primeiros deslizamentos que afetaram Angra dos Reis no início do ano, a área de comunicação da ABMS, a pedido do presidente Jarbas Milititisky, se empenhou em colocar os membros da associação à disposição da imprensa. A partir do dia 1, associados da ABMS já davam entrevistas. Willy Lacerda, ex-presidente da entidade e membro do Núcleo Rio, falou à Rádio CBN ainda no primeiro dia de 2010. A partir daí, nomes como Ian Schumman Martins, presidente do Núcleo Rio, Alberto Sayão, ex-presidente da ABMS, Anna Laura Nunes, presidente do Comitê de Mecânica das Rochas da ABMS e Maurício Ehrlich, se revesaram em entrevistas e declarações, resultando em mais de 50 publicações envolvendo a ABMS e seus associados nas notícias sobre a tragédia que deixou milhares de desabrigados no Rio de Janeiro. A ABMS foi entrevistada por veículos de diversos estados para dar embasamento técnico às reportagens. Veículos como TV Globo e os jornais O Estado de S. Paulo, O Dia, Extra e Folha de S. Paulo ouviram os associados da entidade mais de uma vez. Na foto, Ian Schumann Martins, presidente Núcleo Rio de Janeiro, em entrevista ao RJTV, da Rede Globo. Saiba mais.

2010
ABMS participa da organização de Simpósio de Solos Moles

Entre os dias 22 e 23 de maio, a ABMS espera 250 participantes para o que promete ser o maior Simpósio de Solos Moles já realizado no Brasil. O “Simpósio de Novas Tecnologias para Projeto e Construção em Solos Moles” acontece no Guarujá, no litoral de São Paulo. Vinte e nove palestrantes de treze diferentes países se dividem em três seções técnicas, quatro Keynote lectures e um Workshop. O evento é organizado pela ABMS, e IGS-Brasil, com apoio da ISSMGE e IGS. O encontro reunirá acadêmicos, executores e consultores brasileiros e estrangeiros para discutir novas técnicas de construção e projeto em solos moles. “Diferentes temas da área construtiva e de projeto serão abordados”, destaca Márcio Almeida, presidente da Comissão Organizadora. “Nosso objetivo é fazer deste evento o maior encontro brasileiro sobre o assunto até agora”. Saiba mais.

AGENDA
Eventos de grande porte movimentam 1º semestre

O primeiro semestre de 2010 terá cinco eventos de destaque. Três deles acontecem no Brasil entre os meses de abril e maio. O GeoSul 2010, que acontece de 21 a 23 de abril, em Foz do Iguaçu, Paraná, é o primeiro deles. Seguido pelo Simpósio de Solos Moles, que acontece entre os dias 22 e 23 de maio, na cidade do Guarujá, litoral de São Paulo. Também no Guarujá acontece a 9ª Conferência Internacional de Geossintéticos, entre os dias 23 e 27 de maio. Fora do Brasil, dois encontros dão o tom do primeiro semestre desde ano. O primeiro deles, que acontece entre os dias 26 e 29 de abril, é um conhecido encontro português - o Congresso Nacional de Geotecnia. A 12ª edição do evento acontece na cidade de Guimarães, em Portugal. Já Congresso Internacional de Túneis, promovido pela ITA (International Tunnelling and Underground Association), acontece entre os dias 14 e 20 de maio, na cidade de Vancouver, no Canadá. Confira mais detalhes.

NOTA DE FALECIMENTO
Sócio Emérito da ABMS morre aos 85 anos

No dia 24 de janeiro de 2010, a engenharia geotécnica brasileira se despediu de um importante nome: Job Shuji Nogami, que faleceu aos 85 anos. Ele foi professor doutor do Departamento de Transportes da Escola Politécnica da USP desde 1985. Teve papel relevante também na ABMS, ocupando o cargo de Conselheiro do Núcleo Regional São Paulo por quatro vezes (1982-24, 1984-86, 1990-92, 1992-94). Para saber mais, clique aqui.

A e-ABMS é a revista eletrônica da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

Diretoria:
Jarbas Milititsky
Arsenio Negro Jr.
Fernando Schnaid
Ilan Gotlieb
André Pereira Lima

 

Editor: Helvio Falleiros
Reportagem:
Graziele Storani e Renata Tomoyose