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Edição Nº 35 - 09/12/2009
ENCOSTAS
5ª Cobrae reuniu em SP especialistas de 18 estados

O auditório da Universidade Anhembi Morumbi, na zona sul de São Paulo, foi palco da 5ª edição do maior encontro brasileiro sobre encostas. O evento da ABMS, que acontece a cada quatro anos, chegou em 2009 com o recorde de 354 inscritos e 86 trabalhos apresentados. Engenheiros, geólogos e estudantes de 18 estados estiveram presentes durante os três dias do evento (8 a 10/11). O dia da abertura da Cobrae contou com a apresentação da nova norma de Estabilidade de Encostas – NBR 11682 e também com uma emocionada homenagem da ABMS ao seu ex-presidente e sócio emérito, Willy Lacerda. A sessão de encerramento comoveu os participantes que discutiram o envolvimento da entidade no dia a dia dos deslizamentos em Santa Catarina, no final de 2008.

“Nossos eventos sempre foram voltados para a comunidade técnica. Pela primeira vez, a ABMS falou para fora. Este evento foi um marco para a história da entidade”, afirmou Argimiro Alvarez Ferreira (foto à direita), presidente do Núcleo São Paulo da ABMS, que organizou o encontro.

Oitenta e seis trabalhos foram apresentados na Conferência, que reuniu qualidade técnica e um ingrediente raro em eventos de engenharia – emoção. O evento foi aberto com uma homenagem a Willy Lacerda, professor, especialista em encostas, e ex-presidente da ABMS.

O encerramento foi outro ponto em que as teorias técnicas dividiram espaço com o sentimento. O relato emocionado do tenente-coronel Lucas Alves, chefe da Defesa Civil de Minas Gerais. Lucas, que foi convidado a coordenar as ações da Defesa Civil em Santa Catarina, comoveu os participantes com um agradecimento feito aos voluntários da ABMS durante os deslizamentos do final de 2008 no estado catarinense.

Cinco temas centrais foram abordados durante o encontro: Investigação, Movimento de massa e Análise de estabilidade dividiram espaço com Estabilização de Encostas, Problemas e soluções de taludes e Aterros em áreas urbanas. A discussão de casos também fez parte do evento que, na sessão de abertura, levou aos participantes um tom mais emocionado.

“Os participantes eram formados por professores, pesquisadores, alunos e conseguimos também atrair um grande número de profissionais”, afirma Marcos Massao Furai (foto à esquerda), presidente da Comissão Organizadora. “A participação dos consultores, projetistas, contratantes e executores deu tom prático às sessões”.

Antes de dar início à apresentação oral dos 21 trabalhos técnicos selecionados, Ian Schumann Martins (foto abaixo, à esquerda), presidente do Núcleo Rio de Janeiro, contou aos participantes a trajetória de vida de Willy Lacerda, ex-presidente da ABMS e sócio emérito da entidade. Ex-aluno de Lacerda, Schumann se considera discípulo do professor desde que o conheceu, em 1977, quando era aluno do 5º ano de engenharia da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Com 136 versos distribuídos em 31 estrofes, Schumann apresentou no estilo de um cordel a homenagem feita em nome da ABMS e do COPPE (atual Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da UFRJ). “Encontramos no cordel uma maneira menos formal de falar de uma pessoa tão acessível, humanista, brincalhona e competente como Willy”, destaca Ian Schumann Martins. “Além de um profissional que admiramos muito, Willy é um dos ícones brasileiros quando o assunto é encosta”.

O homenageado Willy Lacerda confessa que, por conta do convite para a abertura, desconfiava que algo seria feito. Lacerda revela, no entanto, que se surpreendeu com a profundidade que foi conferida ao relato. "Foi uma surpresa muitíssimo agradável. O modo como minha história foi contada me lembrou minha vida", destaca. "Foi emocionante. Usaram fotos que eu desconhecia". Clique aqui para ter acesso ao cordel, sobre a vida de Willy Lacerda, feito por Ian Schumann.

O perfil do público presente à 5ª Cobrae supreendeu a Comissão Organizadora. Especialistas de vários estados, professores das principais universidades e profissionais de destaque da engenharia geotécnica formam um público conhecido e frequente em eventos como esse. A surpresa veio, no entanto, de outra parcela dos participantes. A presença significativa de jovens profissionais chamou a atenção dos organizadores. “O grande número de jovens geólogos e geotécnicos foi uma ótima surpresa”, afirma Argimiro Alvarez Ferreira, presidente do Núcleo SP, que organizou a 5ª edição da Cobrae. “Além de estar em um número maior que o normal, os jovens participaram tanto como apresentadores quanto como platéia, com perguntas e observações”. Na foto acima, Willy Lacerda recebe os cumprimentos de Jarbas Milititsky, presidente da ABMS.

“Todas as palestras foram de alto nível, destacando-se dois aspectos: conteúdo que retrata o estado do conhecimento e o enfoque prático em cada um dos temas apresentados”, destaca Futai, presidente da Comissão Organizadora.

"Além do sucesso técnico de um evento como esse, contamos com a surpresa de três pontos emocionantes: a discussão da norma de encostas, a homenagem a Willy Lacerda e a sessão sobre a participação da ABMS nos escorregamentos de Santa Catarina", destaca Alberto Sayão, ex-presidente da ABMS. "Nós geotécnicos sempre participamos do antes (projeção) e do depois dos acidentes (recuperação). A sessão deixou explícito o valor que podemos ter durante um colpaso, resolvendo os problemas técnicos necessários".

Como no início, o tom emocionante voltou à cena da 5ª Cobrae. Dessa vez, na sessão de encerramento. A terceira mesa redonda e também última sessão do evento foi destinada a casos de deslizamentos no pais. Episódios ocorridos no Rio de Janeiro, São Paulo e de Santa Catarina foram trazidos à discussão. Na foto acima os participantes do debate. Da esqueda para a direita: Marcelo Gramani, do IPT, Alexandre Lucas Alves, tenente-coronel da Defesa Civil, Edgar Odebrecht, da Geoforma, Claudio Wolle, da EPUSP, e coordenador da sessão, Luiz Antoniutti Neto, da Fugro In Situ, e Rogério Feijó, da Fundação Geo-Rio.

A parte da sessão destinada ao relato da participação da ABMS nos escorregamentos de Santa Catarina foi o momento mais emocionante da sessão. Dessa apresentação fizeram parte Luiz Antoniutti Neto, Edgar Odebrecht e o tenente-coronel Lucas Alves, gestor de desastres da Defesa Civil de Minas Gerais. Durante os deslizamentos de Santa Catarina, Lucas Alves foi chamado a assumir o posto de Navegantes (SC), local onde estavam concentradas as ações de resgate e auxílio às vítimas dos mais de quatro mil deslizamentos que afetaram a região do Médio Vale do Itajaí.

Antoniutti e Odebrecht participaram do dia a dia dos resgates, auxiliando na vistoria dos locais de risco. Além dos dois profissionais, outros 30 membros da ABMS se inscreveram para ser voluntários. Cerca de quinze associados participaram efetivamente do trabalho.

Em sua apresentação, Antoniutti (à direita) destacou a importância do comando unificado, que possibilitou à ABMS “boa capacidade de atuação em benefício da sociedade”. Os voluntários da ABMS se uniram aos demais voluntários envolvidos. Os geotécnicos presentes eram responsáveis pela vistoria das encostas de risco. Do parecer dos membros da ABMS dependiam a volta de famílias para as casas, a busca de corpos e a própria locomoção dos homens da Defesa Civil, que registrou ao longo dos dias de resgate 18 mil ocorrências.

Edgar Odebrecht (à esquerda) levantou, em sua apresentação, a importância da ABMS ter chegado a Navegantes de modo organizado e pronta a ajudar. “Alguns voluntários, sem organização, mais atrapalhavam o processo do que ajudavam. A ABMS chegou com recursos próprios e com pessoal competente e organizado”, declara. Tanto Odebrecht quanto Antoniutti falaram do fator emocional envolvido em um desastre de tamanha magnitude – 78 mil desabrigados.

Ficou, no entanto, a cargo do tenente coronel Lucas a pintura do real cenário em que a entidade, representada por seus sócios voluntários, entrou. “A Defesa Civil não é um órgão, mas um conjunto de ações que pode ser desenvolvido por toda a sociedade”, afirma. “Antes desse episódio em Santa Catarina eu não tinha conhecimento da existência da ABMS. Uma entidade responsável e extremamente competente, que chegou a Navegantes com boa vontade e alta qualidade técnica”.

“Em nossa equipe nenhum membro é mais importante que o outro e os engenheiros, com todo oconteúdo técnico que detém, se adaptaram a isso, colocaram os pés na lama e mostraram para toda equipe os caminhos mais seguros a serem seguidos”, relata Lucas. “Uma entidade extremamente técnica que soube direcionar o conhecimento para o bem da sociedade”.

Ao final de sua apresentação, Lucas Alves (à direita) comoveu a todos. Depois de solicitar aos voluntários de Santa Catarina, presentes no evento, que se levantassem, pediu à platéia que o acompanhasse nas palmas que dirigiu aos que estavam em pé. “Foi um momento histórico para a ABMS”, destaca Argimiro Alvarez Ferreira. “Um momento que deixou claro o quanto nós engenheiros geotécnicos podemos ser úteis como entidade que formamos. Somos profissionais que trabalhamos com a natureza e conhecemos os sinais da natureza”.

O evento, que reuniu mais de 350 participantes, foi considerado um sucesso para a comissão organizadora. “Além da alta qualidade técnica apresentada, ficou evidente naquele palco que podemos ser importantes para sociedade”, destaca Argimiro. “Pela primeira vez utilizamos um evento técnico para falar para além de nossos ouvidos. Falamos para fora com a ajuda do tenente coronel Lucas”. Confira aqui um relato dos principais pontos da 5ª Cobrae segundo o presidente da Comissão Organizadora Marcos Massao Futai.

A e-ABMS é a revista eletrônica da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
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Repórter: Graziele Storani e Renata Tomoyose